18/06/2011



Flauta Transversal: Suéllen Campos
Direção e Roteiro: Paula Assis
Assistente de Direção: Daniel Lemos
Assistente de Produção: Rafael Rosa

23/11/2010

these words elope it's nothing like your poem

No meio da sessão de frios procuro camarão graúdo para o strogonoff, como cheira mal essa parte de frios, olhei pra cesta no braço e conferi se faltava mais alguma coisa além dos ingredientes principais; tava tudo lá além disso amaciante, biscoito recheado e coca light, tô esquecendo alguma coisa? sempre perco a listinha e que frio faz aqui, ah! achei o camarão catei com vontade e ao virar a embalagem para conferir a validade uma voz diz meu nome no diminutivo: olhos sobem sobrancelha assusta, oi ei, risos e aí, tudo bem? sorrisos amarelados como a lasanha da sadia, olhei pra prateleira de leite lá do outro lado e você elucida “olha! você ainda come passatempo?!” “É” você gesticula esfregando uma aliança de compromisso na minha cara, porra! E a validade do camarão? encosta no meu braço e nota que estou arrepiada e esquece da (nossa) sessão de frios, te corto como (faca) eu já ia esquecendo do creme de leite, então tá tchau então, outro sorrizinho meia boca. As cores do supermercado nunca me fizeram tão mal, já fui de chorar ao descascar cebola mas encontrar ex no supermercado é mais impessoal que ganhar porta-retrato de presente de aniversário.

24/09/2010

sopa de letrinhas

(Paula A & Rafael R)

um amontoado de palavras:
dormir de conchinha, esquecer de tudo, lençóis brancos, sonhar junto e sonhar um dentro do outro. tá com ciúmes, desejo, carícias, tô com frio, discussões, vem aqui, carne e espírito, baseado, kama sutra, sussurros, palavrinhas e palavrão. Diálogo, escândalo, Cazuza e poesia, como vc está cheiroso, hormônios, contato e masturbação, dormi pensando em, cérebro, bunda, falta de ar e disritimia. Beijos de novela,boa noite, cinema, motel e filme pornô. eu tenho razão, insanidade, lágrimas e boleros tristes. Falta, por que vc faz isso comigo? vazio, onde vc estava? falta de explicação, café da manhã, um cozinha o outro lava, trepar na pia da cozinha, na pia do banheiro, beber no mesmo copo, dividir guimbas, massagem, compartilhar toalha e escova de dente, planejar viajem, a nossa música favorita, fala-se de casamento ao invés de dizer que as coisas podiam durar para sempre, o quê que vc tá pensando? eu te amo, tô confuso(a), a comida que vc mais gosta, tudo na mesma comanda, chega pra lá, olha essa foto nossa, eu gosto quando vc usa isso,quando fala isso, eu odeio quando vc se banca de esperto, por que vc não atendeu? sabe aquele dia? qual a senha do seu email? você não confia em mim? Você disse que ia, guarda a minha chave, ai que saco, me dá um pedacinho do seu, é surpresa, ah não, vc está cansado de saber disso, segredo,número e pronome eu e você(dois pontos) nós dois.


*Rafael R http://simpazzz.blogspot.com/
*

07/08/2010

O destinatário não precisa ser chamado pelo nome,


Decidi retirar as pedras que tampavam a ferida, como é vermelho o inacabado. prossigo, viajei olhando o céu as árvores... e o vento soprava uma nostalgia descarada, nuvens antigas. Você, que sonha e acorda triste, prospera intensidade mas se contenta com mixarias, palavras ocas, corpos vazios, almas perdidas. digo que as pedras que carrego no peito são as mesmas que pesam na tua consciência: Sim, somos fortes e covardes, desviamos o curso de um rio que (ainda) não secou; A fonte dos dissimulados. Deito a cabeça no travesseiro como se no seu colo pudesse dormir em paz. Mas não há paz. Atravesso ruas e assuntos, imagino diálogos, ah quero te contar uma coisa, quero morrer sem culpa, entenda bem, não que eu queira morrer, a vida ainda reserva surpresas nos livros,lugares e pessoas que terão de participar dessa divina comédia. Quero viajar, quero emprego e décimo terceiro, filhos, quero morar numa casa com jardim, nesse jardim há um ipê branco que protege a mesa do nosso café da manhã. Talvez eu esteja sozinha com o café, as vezes imagino duas crianças dividindo o último pedaço do bolo. Cenário bucólico e delicado tenho o direito de abusar das fantasias. Como será o café das crianças daqui a 15 anos? Não quero pensar que eles vão tomar café na mesa, debaixo do ipê, jogando “videogame portátil”. Exorcizei terços do meu conto de fadas. Odeio tentar deduzir o futuro, tenho medo (e esperança) de que seja muito diferente ou previsível. Quero me surpreender, eu espero isso da vida. Espero um encontro de contra-tempos, espero dentro de um quarto claro, te quero por um dia como se te perdesse e nada mais. Quero fundir as partes de um mesmo átomo. O céu os lençóis macios, estou com sede e você com preguiça de me servir. Vai lá, abre a geladeira, abre o coração e derrete esse resto que nos resta. Você quer? Se fosse antes,seria você, mas agora eu quero água.


Beijos, beijos, beijos entre vírgulas sorrio de alegria e aflição,


você lembra da minha letra, dispenso a assinatura

20/05/2010

Agarro o sol
e me queimo
gosto da chuva
que me molha
sinto o vento
em meu corpo
escorrego
entre copos de whisky
e boites lotadas
de almas cansadas
adoro um papo inteligente
fascino as pessoas que me conhecem
conservo
os amigos que acontecem
dos homens que tive
curti todos
alguns especialmente
ou alguém em especial
meu soriso franco
é o reflexo
do meu espírito aberto
a tudo que vier
minha beleza ajudou
mas foi minh'alma
que conquistou meu mundo
e me deixou viva
em cada pedaço de mim
que ficou nas pessoas que
conheci,gostei,amei.

(Ana Horta 1979)


21/03/2010

Equinócio

Você acredita em horóscopo?
em amor a sétima vista?
em espíritos?
casamento?
novelas?
psicotrópicos?
jornal?
édipo?
natureza?
serotonina?
Jesus?
justiça?
masoquismo?
amizade?
causa e efeito?
mudanças?
Focault?
política?
homeopatia?
pensamento?
lucidez?
biografias?
sinceridade?
traumas?
LSD?
encarnação?
física?
padres?
catástrofes?
Albert Eisten?
mantras?
professores?
virgindade?
caridade?
John Malkovich?
obssessão?
final feliz?

porque é só curiosidade.

16/03/2010

Aurora




Alguns sempre acordam atrasados, ou, nunca acordam. Acordam com fome, há aqueles que acordam querendo vomitar. Outros acordam respirando fundo e espreguiçando,existem os que acendem um cigarro e depois amanhecem.Depois de acordar,todos eles vão vestir as suas máscaras para,dessa forma,ganhar a vida. Quem é você?

As mulheres se enchem de perfume e cremes, depois de muita análise, escolhem uma roupa que as deixe sensual, que dê valor as partes bonitas (mesmo não as tendo, penteiam os cabelos várias vezes, mas nunca é suficiente, pois sempre acham seus cabelos ruins. Sobem em saltos finos ou plataformas do tamanho de um degrau; passam maquilagem (o que as torna mais misteriosas, nunca sabemos como elas são naturalmente), se enchem de acessórios, brincos, relógios, pulseiras, anéis, colares, penduricalhos e mais penduricalhos; para completar a fantasia, só falta a voz delicada e um sorriso no rosto. Pronto! Apresentável.

Os homens em sua grande maioria acordam e imediatamente coçam o saco, e só levantam da cama quando sentem que a cara está em cima da fronha babada. Uns vão para o banho, outros usam o banheiro e não usam a descarga, lavam o rosto e escovam os dentes. Escolhem a primeira calça e blusa que vêem na frente e pegam a meia que já estava usada. Há aqueles que gastam neurônios para se engomar (uns gostam disso, e outros necessitam disso, seja para o trabalho, ou por vaidade). O fato é: de roupa limpa e passada, com a barba feita. Pronto! Apresentável.

Acordo me enroscando como uma serpente, com a cara amassada, boca seca, hálito matinal, cabelos bagunçados, um olho menor que o outro e com a voz rouca. As vezes acordo com blush natural,as vezes com olheiras (artificiais), as vezes com o nariz entupido. Essa sou eu sem máscaras. Você é aquilo que acorda, e a realidade é pior do que você imagina.

05/02/2010

Lituraterra

Meus amores são contos;
Tudo tão breve
Tudo tão rápido.

Terminam sem pé nem cabeça
Terminam sem causa
sem fala

Meus amores são crônicas;
Duram horas,parágrafos.
Que se perdem dos pontos finais.

Meu amor não dá romance
Nem epopéia.
Meu amor é metalinguístico.

03/02/2009

Ocupação


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Cochilando na varanda,com os pés pro ar,Lucia sente a brisa lhe dedilhar. Deitada na rede,sonhando, até que a hora de buscar as crianças a interrompa. (por instantes pensa no alívio que é não ter filhos, ao menos uma vez na semana). No impulso largou a preguiça e levantou-se à caminho da cozinha; já imaginando o quarto o armário os lanches, os brinquedos das crianças. Entrou na cozinha e pediu Elza para arrumar a mesa do café da tarde.
Na saída da escola avista Pâmela: mãe loira e amável, porém,problemática. Sempre com roupas largas na pretensão de esconder a magreza.Pálida,lábios grossos,traços fortes,óculos escuros;para esconder a dor. De dentro do carro Lucia fica imóvel,com olhos de piedade - Pâmela gosta dos filhos,pensa,mesmo chapada não os prejudica de maneira "trágica". Os filhos não percebem,mas a sociedade condena. - Uma mão de criança bate com os dedos no vidro do carona - pisca,logo vê o sorriso banguelo de seu filho mais novo, Arthur.
Chegou em casa com ar de pena,pediu à Elza que desse banho nos filhos,coisa que impreterivelmente fazia,mas hoje não. Subiu as escadas com passos pouco firmes,ombros que buscam o chão.Tomou banho. Deitou dez horas,sem os beijos dos pequenos,sentindo angústia e vazio (na cama).Marcelo estava em São Paulo a trabalho,voltaria em oito dias.Ainda era o 3º.
Suspirou fundo e em dissonante continuação soltou - Ai ai - como quem solta o sutiã,expira;e afoga o rosto nos travesseiros imaculadamente brancos.Pega no telefone com entusiasmo,ligar para o marido!Mas desiste.Medo de incomodar.Reuniões,negócios,negócios,a vida de executivo de Marcelo,a secretária que sempre diz em tom forçado - Ele está ocupado no momento,dona Lucia. - Ora,dona; Lucia trava o maxilar e sente na saliva a antipatia gratuita de Márcia: a secretária.
Levanta da cama e fica de frente pro espelho,franje a testa e faz cara séria,ar de reprovação...Molda a sobrancelha em acento circunflexo.Batem na porta.
- Entra! - Lucia ainda de frente para o espelho,agora com as mãos na cintura.
Elza entra com um copo de leite e deixa-o na mesa de cabeceira,devagar,olha pra Lucia.
- Que foi? - Silêncio.A empregada a observa e, com calma lembra, de quando ainda era babá e noiva de Mathias."Lu, sempre de frente pro espelho,ensaiando caretas,fazia bico e beijava o reflexo com baton rosa infantil",ah!Memória.
Elza respira baixinho,fala baixinho:
- Que cara é essa,minha filha? - Lu solta os braços e sai da frente do espelho,bufando.
- Zinha,tô nervosa! Faz chá!
- Chá?
- Não! Faz café,não!Faz suco - Nem sabia oque queria,quer dizer,sabia. Como?Sentou no pé da cama e encolheu o corpo,encostou a cabeça.
- Ai, sei lá. - Vermelha,engasgada.Fitou a pobre Elza e disse -"Faz suco de Marcelo,não! Faz suco de Márcia com limão,sem açúcar". 
Assim soltou a raiva, que no início da tarde era piedade.
- Ô Lucinha, não fica chateada com isso.Toma seu leite. 
Lu obedece a babá,pega no copo,bebe de gole em gole e molha o buço de nata. Elza liga o abajur;ao lado o porta retrato do casal numa viajem ao Chile. Arruma as cobertas e diz à Lucia que: " você tem marido e dois filhos" - enquanto levanta o endredon para lhe cobrir.Lu se acalma,relaxa a testa; aquele olhar inseguro, covarde,pouco malicioso. Olhos que ardem de cansaço de uma vida doméstica luxuosa light,pisca,enxerga coisas.E Marcelo? Molham-se os cílios. Mulher frágil,mas finge que sofre.Acontece que a raiva circula pelas artérias.Suspira,decepcionada em concordância conjugal: força do hábito.
Elza levanta da cama, beija a mão de dedos finos - "Dorme com Deus". - E apaga a luz. Retira-se da suíte, fechando a porta,com cuidado.
No escuro os olhos permanecem abertos,nas esperança de capitar alguma luz;para dilatar.Pensa de novo no marido,no whisky do final do expediente,São Paulo,preço do dólar, na saleta de design moderno onde todos estão socialmente elegantes. Que raiva daquela empresa,que roubara seu marido - ou o marido a trocara, pela empresa(ou pela secretária?). Decidiu parar de pensar,antes que se tornasse doida varrida,começasse a tomar remédios e, e não! Não quero ser Pâmela.
Virou para o canto e fez o nome do Pai.Fechou os olho; Oque os olhos não vêem o coração pressente.
Dormiu.
Acordou.Uma manhã normal, se espreguiçou de frente pra janela; céu azul,observa a hera que cobre o muro e pensa, que nos Estados Unidos as casinhas são também "unidas" por simpáticas cercas de 1 metro,a maioria com um portãozinho( convívio com os vizinhos?) Estados Bonitos...
Sente o cheiro da broa de fubá que vem da cozinha,escuta os passarinhos e o barulho da mangueira ligada no jardim. Lava o rosto e desce as escadas descalço,entra na copa e pega um pedaço de broa.Vai pra sala de televisão,onde os dois filhos, Hugo e Arthur assistem desenho animado.
Beija a testa de cada um e senta-se no meio,abraçando-os.
- Cadê a Zinha?
- Passando roupa. 
Responde Hugo,o filho mais velho, que olha fixadamente para a tv.
Lucia abraça os filhos de leve,como o pássaro que acolhe seus filhotes.Confere se as unhas estão cortadas e sente a energia que emana das mãozinhas dadas.Momento bom,pensa (que não está disponível no mercado nacional). Orgulhosa.
O telefone toca:
- Alô!Marcelo?