12/03/2013

Desafiada

Picando cebola fecho os olhos com força, a faca continua mais incisiva com a aflição das pálpebras, penso se lágrimas temperam comidas, esfaqueando a emoção em miúdos: cozinha café calúnia, carinho colega caô, confiança caipirinha caralho, copo carência cantada, conceito crucial consoante do afeto.

16/02/2013

Alfredo,



Passei dias remoendo orgulho daquela maneira que nos é comum: organizei todas as gavetas e prateleiras do meu casulo. O casulo é mediano e não é a poeira que incomoda,  é sempre o saudosismo de nossas conversas e a veemência dos fatos que prevíamos de maneira tola a gargalhar no terraço da casa dos Dias. Sei que ao me ler sentes pena, sim, pena do único amigo que ainda tens ser um velho bobo. Nunca pensamos em mulheres com toda a frivolidade ensinada aos nossos conterrâneos. Confesso que não casei, não tive filhos e não tive chance de saber se todo o meu saudosismo é mera demagogia. Não tenho mais idade para me arrepender, na verdade não entendo como a idade aumenta e os laços de amizade se desfazem como uma dança sem ensaios (ainda confundo deslocamento com distanciamento). Será que todos percebem o erro da dança? Alfredo, este ano completo a idade que desejei morrer. Vou à Salvador e não ficarei na sua casa, não quero depender de ninguém, respeito minha vontade e seus humores, afinal, somos velhos demais para fazer sala. Levarei um livro que ganhei da minha afilhada, o mais importante não foi ser um livro em francês do Rimbaud, mas foi a dedicatória que ela escreveu! Claro que eu não entendi todas as palavras, mas me senti feliz por receber tantas palavras, fico me perguntando se Bia contou à filha que éramos colegas de francês e que após as aulas bebíamos e sempre chegávamos em casa repetindo versos de Arthur Rimbaud, até o dia que ela brindou  "vous serez le parrain" e eu, sorrindo oui  pensando que seria padrinho da noiva que bebe e se solta nos ares da orla de Copacabana  Nesse dia ela "je suis enceinte". Não dei bola, não tive curiosidade. Bia percebeu, era só uma palavra, esse dia fomos embora cedo, era final de semestre. Nos despedimos e ela disse para que eu conferisse o dicionário na página marcada, não olhei dicionário, fui dormir. No dia seguinte é que vi; enceinte: grávida. Não me assustei; somos, éramos amigos e Bia estava bem, na verdade gostei da maneira como fiquei sabendo. Bia foi a mulher mais discreta que conheci. Não sei dela, mas sei que criou Flora para ser tudo que ela nunca foi e deve estar satisfeita quanto a isso, Flora domina a língua que um dia brincamos de aprender. No livro veio uma foto dela em uma praia de Nice, estou certo que a vontade de ir para Bahia está vinculada com tudo isso. Sou eternamente catártico. Não voltarei para o francês, antes que penses nisto. Mas, banho de mar, autor favorito e meu último amigo são os únicos presentes que eu poderia desejar nesse último ano. E antes de despedir, caro Alfredo, consegues tu, desejar três coisas antes da minha chegada? És mais velho que eu, ainda desejas as coisas? 

18/06/2011



Flauta Transversal: Suéllen Campos
Direção e Roteiro: Paula Assis
Assistente de Direção: Daniel Lemos
Assistente de Produção: Rafael Rosa

23/11/2010

these words elope it's nothing like your poem

No meio da sessão de frios procuro camarão graúdo para o strogonoff, como cheira mal essa parte de frios, olhei pra cesta no braço e conferi se faltava mais alguma coisa além dos ingredientes principais; tava tudo lá além disso amaciante, biscoito recheado e coca light, tô esquecendo alguma coisa? sempre perco a listinha e que frio faz aqui, ah! achei o camarão catei com vontade e ao virar a embalagem para conferir a validade uma voz diz meu nome no diminutivo: olhos sobem sobrancelha assusta, oi ei, risos e aí, tudo bem? sorrisos amarelados como a lasanha da sadia, olhei pra prateleira de leite lá do outro lado e você elucida “olha! você ainda come passatempo?!” “É” você gesticula esfregando uma aliança de compromisso na minha cara, porra! E a validade do camarão? encosta no meu braço e nota que estou arrepiada e esquece da (nossa) sessão de frios, te corto como (faca) eu já ia esquecendo do creme de leite, então tá tchau então, outro sorrizinho meia boca. As cores do supermercado nunca me fizeram tão mal, já fui de chorar ao descascar cebola mas encontrar ex no supermercado é mais impessoal que ganhar porta-retrato de presente de aniversário.

24/09/2010

sopa de letrinhas

(Paula A & Rafael R)

um amontoado de palavras:
dormir de conchinha, esquecer de tudo, lençóis brancos, sonhar junto e sonhar um dentro do outro. tá com ciúmes, desejo, carícias, tô com frio, discussões, vem aqui, carne e espírito, baseado, kama sutra, sussurros, palavrinhas e palavrão. Diálogo, escândalo, Cazuza e poesia, como vc está cheiroso, hormônios, contato e masturbação, dormi pensando em, cérebro, bunda, falta de ar e disritimia. Beijos de novela,boa noite, cinema, motel e filme pornô. eu tenho razão, insanidade, lágrimas e boleros tristes. Falta, por que vc faz isso comigo? vazio, onde vc estava? falta de explicação, café da manhã, um cozinha o outro lava, trepar na pia da cozinha, na pia do banheiro, beber no mesmo copo, dividir guimbas, massagem, compartilhar toalha e escova de dente, planejar viajem, a nossa música favorita, fala-se de casamento ao invés de dizer que as coisas podiam durar para sempre, o quê que vc tá pensando? eu te amo, tô confuso(a), a comida que vc mais gosta, tudo na mesma comanda, chega pra lá, olha essa foto nossa, eu gosto quando vc usa isso,quando fala isso, eu odeio quando vc se banca de esperto, por que vc não atendeu? sabe aquele dia? qual a senha do seu email? você não confia em mim? Você disse que ia, guarda a minha chave, ai que saco, me dá um pedacinho do seu, é surpresa, ah não, vc está cansado de saber disso, segredo,número e pronome eu e você(dois pontos) nós dois.


*Rafael R http://simpazzz.blogspot.com/
*

07/08/2010

O destinatário não precisa ser chamado pelo nome,


Decidi retirar as pedras que tampavam a ferida, como é vermelho o inacabado. prossigo, viajei olhando o céu as árvores... e o vento soprava uma nostalgia descarada, nuvens antigas. Você, que sonha e acorda triste, prospera intensidade mas se contenta com mixarias, palavras ocas, corpos vazios, almas perdidas. digo que as pedras que carrego no peito são as mesmas que pesam na tua consciência: Sim, somos fortes e covardes, desviamos o curso de um rio que (ainda) não secou; A fonte dos dissimulados. Deito a cabeça no travesseiro como se no seu colo pudesse dormir em paz. Mas não há paz. Atravesso ruas e assuntos, imagino diálogos, ah quero te contar uma coisa, quero morrer sem culpa, entenda bem, não que eu queira morrer, a vida ainda reserva surpresas nos livros,lugares e pessoas que terão de participar dessa divina comédia. Quero viajar, quero emprego e décimo terceiro, filhos, quero morar numa casa com jardim, nesse jardim há um ipê branco que protege a mesa do nosso café da manhã. Talvez eu esteja sozinha com o café, as vezes imagino duas crianças dividindo o último pedaço do bolo. Cenário bucólico e delicado tenho o direito de abusar das fantasias. Como será o café das crianças daqui a 15 anos? Não quero pensar que eles vão tomar café na mesa, debaixo do ipê, jogando “videogame portátil”. Exorcizei terços do meu conto de fadas. Odeio tentar deduzir o futuro, tenho medo (e esperança) de que seja muito diferente ou previsível. Quero me surpreender, eu espero isso da vida. Espero um encontro de contra-tempos, espero dentro de um quarto claro, te quero por um dia como se te perdesse e nada mais. Quero fundir as partes de um mesmo átomo. O céu os lençóis macios, estou com sede e você com preguiça de me servir. Vai lá, abre a geladeira, abre o coração e derrete esse resto que nos resta. Você quer? Se fosse antes,seria você, mas agora eu quero água.


Beijos, beijos, beijos entre vírgulas sorrio de alegria e aflição,


você lembra da minha letra, dispenso a assinatura

20/05/2010

Agarro o sol
e me queimo
gosto da chuva
que me molha
sinto o vento
em meu corpo
escorrego
entre copos de whisky
e boites lotadas
de almas cansadas
adoro um papo inteligente
fascino as pessoas que me conhecem
conservo
os amigos que acontecem
dos homens que tive
curti todos
alguns especialmente
ou alguém em especial
meu soriso franco
é o reflexo
do meu espírito aberto
a tudo que vier
minha beleza ajudou
mas foi minh'alma
que conquistou meu mundo
e me deixou viva
em cada pedaço de mim
que ficou nas pessoas que
conheci,gostei,amei.

(Ana Horta 1979)


21/03/2010

Equinócio

Você acredita em horóscopo?
em amor a sétima vista?
em espíritos?
casamento?
novelas?
psicotrópicos?
jornal?
édipo?
natureza?
serotonina?
Jesus?
justiça?
masoquismo?
amizade?
causa e efeito?
mudanças?
Focault?
política?
homeopatia?
pensamento?
lucidez?
biografias?
sinceridade?
traumas?
LSD?
encarnação?
física?
padres?
catástrofes?
Albert Eisten?
mantras?
professores?
virgindade?
caridade?
John Malkovich?
obssessão?
final feliz?

porque é só curiosidade.

16/03/2010

Aurora




Alguns sempre acordam atrasados, ou, nunca acordam. Acordam com fome, há aqueles que acordam querendo vomitar. Outros acordam respirando fundo e espreguiçando,existem os que acendem um cigarro e depois amanhecem.Depois de acordar,todos eles vão vestir as suas máscaras para,dessa forma,ganhar a vida. Quem é você?

As mulheres se enchem de perfume e cremes, depois de muita análise, escolhem uma roupa que as deixe sensual, que dê valor as partes bonitas (mesmo não as tendo, penteiam os cabelos várias vezes, mas nunca é suficiente, pois sempre acham seus cabelos ruins. Sobem em saltos finos ou plataformas do tamanho de um degrau; passam maquilagem (o que as torna mais misteriosas, nunca sabemos como elas são naturalmente), se enchem de acessórios, brincos, relógios, pulseiras, anéis, colares, penduricalhos e mais penduricalhos; para completar a fantasia, só falta a voz delicada e um sorriso no rosto. Pronto! Apresentável.

Os homens em sua grande maioria acordam e imediatamente coçam o saco, e só levantam da cama quando sentem que a cara está em cima da fronha babada. Uns vão para o banho, outros usam o banheiro e não usam a descarga, lavam o rosto e escovam os dentes. Escolhem a primeira calça e blusa que vêem na frente e pegam a meia que já estava usada. Há aqueles que gastam neurônios para se engomar (uns gostam disso, e outros necessitam disso, seja para o trabalho, ou por vaidade). O fato é: de roupa limpa e passada, com a barba feita. Pronto! Apresentável.

Acordo me enroscando como uma serpente, com a cara amassada, boca seca, hálito matinal, cabelos bagunçados, um olho menor que o outro e com a voz rouca. As vezes acordo com blush natural,as vezes com olheiras (artificiais), as vezes com o nariz entupido. Essa sou eu sem máscaras. Você é aquilo que acorda, e a realidade é pior do que você imagina.

05/02/2010

Lituraterra

Meus amores são contos;
Tudo tão breve
Tudo tão rápido.

Terminam sem pé nem cabeça
Terminam sem causa
sem fala

Meus amores são crônicas;
Duram horas,parágrafos.
Que se perdem dos pontos finais.

Meu amor não dá romance
Nem epopéia.
Meu amor é metalinguístico.